Saiba como a educação financeira melhora a saúde mental e os relacionamentos

Saiba como a educação financeira melhora a saúde mental e os relacionamentos

Estresse e ansiedade causados pela desorganização financeira pode abalar casais e famílias inteiras

Quantos casais você conhece que se separaram por conta de brigas sobre dinheiro? E quantos filhos têm traumas causados por essas brigas? Irmãos que se afastam por não chegarem a um acordo sobre as finanças, amizades que se rompem por conta de dívidas não pagas.

Quando falamos em educação financeira, não estamos falando só de finanças pessoais. Estamos falando também de relacionamentos interpessoais e de saúde mental.

Segundo a psicóloga e psicanalista Layla Thamm, que realiza atendimentos em psicologia econômica, o jeito como lidamos com o dinheiro é, geralmente, o jeito como lidamos com a vida. “Muitas vezes, uma vida financeira organizada reflete uma organização interna da pessoa”, diz.

Ao mesmo tempo, se a pessoa tem sentimentos confusos e traumas de infância, sua relação com o dinheiro tende a não ser positiva. É o caso de pessoas extremamente ansiosas e inseguras que buscam no consumo excessivo uma saciedade para suas agitações internas, por exemplo.

Instabilidade na família

Selma Faria Silva Bortolli, 60 anos, dona de casa, conta que a instabilidade financeira abalou sua família. Por terem um negócio próprio, uma padaria, as oscilações entre ganhos e perdas eram grandes e, sem um planejamento financeiro que permitisse a construção de uma reserva de emergência, na primeira crise, ela e seu marido se viram em uma situação difícil de sair.

“Nossa relação com o dinheiro sempre foi ruim, nunca tivemos um cuidado financeiro. Tivemos uma vida muito boa, vivíamos com folga, mas a partir de 1995 começamos a ter um declínio por conta da falta de planejamento”, conta. “Quando meu segundo filho nasceu, em 2001, já estávamos em uma situação bem ruim, de muitos altos e baixos.”

João Victor Bortolli, 21 anos, filho de Selma, conta que, quando criança, não percebia a falta de dinheiro, pois seus pais não falavam abertamente sobre isso e nunca deixavam faltar nada em casa. No entanto, percebia sua mãe estressada. Muitas vezes, “sem motivo”.

“Hoje eu entendo que alguns comportamentos dela eram porque ela estava desgastada pela preocupação em relação ao dinheiro”, diz João. Segundo a psicóloga, é muito comum que o endividamento de um membro da família acabe afetando a família toda. Em muitos casos, há a busca por um culpado, quando na verdade o foco deveria ser em uma reeducação financeira de toda a família.

“Os limites do que é de um e de outro não ficam bem delimitados, pois são realizados empréstimos dentro da família, uso compartilhado de cartão de crédito etc, o que acaba levando ao endividamento de todo o grupo familiar. Essa situação abala as relações familiares, em que a dinâmica própria de afetos fica muito misturada com a situação financeira”, explica Layla.

Ao mesmo tempo, a mudança no padrão de vida abala as relações de amizade e podem acabar isolando as pessoas da família do convívio social. Selma conta que conforme a crise foi se instalando em sua casa, seu grupo de amigos foi se tornando cada vez menor, já que ela e o marido não tinham mais condições de comparecer aos eventos, como viagens para a praia e festas.

“É algo muito intenso que só quem vive entende. Eu sou muito grata por eu e meu marido termos conseguido ficar juntos, pois conheço muitos casais que não aguentaram a crise financeira e acabaram se separando”, diz a dona de casa.

Saúde mental

A instabilidade nas relações causada pelo dinheiro reflete e ao mesmo tempo afeta a saúde mental, gerando um efeito de bola de neve. Ao mesmo tempo, o sentimento de constante tensão gerado pela incerteza sobre as condições financeiras para honrar os compromissos no próximo mês afeta diretamente a mente.

Em 2022, o endividamento de famílias bateu recorde no Brasil. Na pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), feita anualmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 77,9% das famílias se declararam endividadas.

Nesse cenário, o resultado é uma maior taxa de adoecimento por ansiedade, depressão e insônia. “A saúde mental da população fica prejudicada, porque diferente do que a maioria das pessoas pensa, saúde mental envolve muitos fatores, e não tem a ver só com terapia e\ou medicação”, reforça Layla.

Segundo a psicóloga, saúde mental tem a ver com alimentação de qualidade, transporte, tempo adequado de sono, atividades físicas, trabalho satisfatório, estar inserido em relações de qualidade com família e comunidade, entre outros fatores que podem ser limitados pela condição financeira.

“A auto estima também é prejudicada, que é a auto imagem daquela pessoa. Na nossa cultura, ser endividado está se tornando regra, mas ainda é comum que o endividado se veja como uma pessoa que fracassou, se culpando exclusivamente pela situação, sem conseguir enxergar os diversos fatores culturais, sociais e educacionais que contribuíram com o endividamento”, diz a especialista.

Educação financeira é semente que, depois de plantada, se espalha

Depois que João, filho de Selma, passou pelo programa da Multiplicando Sonhos, em 2019, quando estudava no colégio Dom Pedro I, a relação da família com o dinheiro mudou. Selma conta que, pela primeira vez, a família conversou sobre educação financeira em casa.

“Ele chegava da escola compartilhando o que tinha aprendido nas aulas e mostrando que não precisa ter muito dinheiro para poupar. O importante é poupar alguma coisa”, conta a mãe. Hoje, João trabalha como estagiário de educação física e já investe parte do seu salário pensando no futuro.

“Meu outro filho, mais velho, também já começou a se planejar melhor financeiramente e tem uma previdência privada, coisa que eu e o pai deles nunca fizemos”, conta Selma. “Meu foco hoje, além da sobrevivência minha e do meu marido, é que meus filhos tenham uma vida financeira diferente da nossa – e graças a Deus isso tem acontecido”, finaliza.

Com informações do Estadão 

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Lairson Bueno

Lairson Rodrigues Bueno, advogado OAB DF 19407, especialista em Direito Penal, atuando na região Centro Oeste, e, estados de São Paulo e Piauí. É formado em Direito pela UCDB - Universidade Católica Dom Bosco de Campo Grande (MS), cursou Estudos Sociais pela UFMS - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, e, Teologia pela FE - Faculdade Evangélica de Brasília, pós graduado em Direito Penal e Formação Sócio Econômica do Brasil pela UNIVERSO-Universidade Salgado de Oliveira de Niterói (RJ). Mais de 70 cursos de qualificação e atualização profissional. Cursou Espanhol Básico e advogou na fronteira com o Paraguai. Ex-funcionario do Banco do Brasil por 12 anos e de cargos comissionados nas Administrações Públicas por 10 anos. Ex-presidente das Subseções da OAB por 3 mandatos, sendo dois mandatos por Samambaia (DF) e um por Taguatinga (DF). Contatos: (61) 9-8406-8620 advbueno@hotmail.com

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