OPINIÃO: A frente ‘ampla’ da esquerda que só tem o PT
A tal frente ampla, na realidade só tem o PT. É apenas Lula sendo Lula, com sua pretensão de hegemonia
Segundo o conto lulopetista, Lula da Silva estaria liderando uma formidável “frente ampla” da sociedade brasileira a favor da democracia e contra Jair Bolsonaro. A realidade, no entanto, é bem diferente. Chega a ser embaraçosa. Apesar de seu pré-candidato à Presidência da República aparecer na frente nas pesquisas de intenção de voto, o PT tem fracassado, até aqui, na empreitada de convencer outras legendas a aderir ao seu projeto eleitoral. Até o momento, o partido de Lula obteve apenas os apoios de sempre: PCdoB, PV e PSB.
O panorama não muda muito quando se olham não os partidos, mas os políticos. Até agora, Lula conseguiu atrair Geraldo Alckmin. Longe de representar uma tendência, o apoio do ex-governador de São Paulo tem o tom de “exceção que confirma a regra”. A adesão do ex-tucano é um bom termômetro do entusiasmo com que foi recebida a tal frente ampla do PT a favor da democracia. Quais lideranças e setores que embarcaram no engodo petista? Por ora, apenas Alckmin.
À primeira vista, o fenômeno pode suscitar perplexidade: o líder nas pesquisas de intenção de voto não consegue obter apoio de outros partidos. E, a agravar o caráter paradoxal da situação, essa resistência das legendas ocorre num cenário político-partidário marcado pelo oportunismo, sem especiais pudores de caráter ideológico ou programático. A princípio, era de esperar, portanto, que muitos partidos tivessem total interesse em aliar-se ao PT.
A perplexidade desfaz-se, no entanto, quando se recorda quem é o PT. Sua pretensão de hegemonia sobre a política e a vida nacional é constitutiva da identidade da legenda, estando presente ao longo de toda sua história. Vale lembrar que o PT foi o partido que, no primeiro mandato de Lula, preferiu comprar deputados por meio do mensalão a ter de compartilhar o poder com outras legendas.
A composição dos Ministérios durante os governos de Lula e de Dilma, com predominância absoluta de nomes petistas, é outro reflexo desse modo de entender a política, que, a rigor, é a rejeição da própria política. Não negocia, impõe.
Com o PT, não há partidos aliados. Em sua concepção hegemônica da vida política, não existe relação de igualdade possível com outras legendas. Para estar junto do PT, há sempre uma condição inflexível: ser submisso aos interesses de Lula. Engana-se, portanto, quem pensa que o lulopetismo despreza apenas os adversários políticos, com sua lógica do “nós contra eles”. O PT desconsidera, sobretudo, os aliados.
De tal forma constitutiva da natureza do PT, a pretensão de hegemonia aparece nas mais diferentes situações. Um exemplo é o discurso de “golpe” a respeito do impeachment de Dilma Rousseff. O PT nunca reconheceu que Michel Temer foi eleito na mesma chapa da candidata petista. Sempre o tratou como um presidente sem votos. Além de negacionismo histórico, a atitude petista explicita o modo como o PT encara as outras legendas – como meras marionetes para seus interesses.
Sendo assim, compreende-se o baixo entusiasmo dos partidos em aderir à campanha de Lula. No início do ano, noticiou-se a resistência de políticos com um pouco mais de experiência, que já experimentaram o modus operandi lulopetista, a apoiar o projeto do PT. Agora, fica explícito que não são apenas alguns nomes que têm dificuldade com o partido de Lula. É a grande maioria do cenário político.
Tudo isso escancara a farsa de uma frente pluripartidária promovida pelo PT. A legenda não sabe sequer fazer alianças, em relação de igualdade, com outras forças políticas. Fica também em evidência, uma vez mais, que, ao falar em democracia, o PT não se refere ao regime constitucional de liberdade e igualdade, de participação e negociação, de respeito e diálogo. Para o PT, democracia é Lula no poder. Afinal, é apenas isso o que sua frente pretensamente ampla, com o neossocialista Alckmin e agregados, “em favor da democracia” busca: o retorno do PT ao senhorio da administração federal, restando a seus aliados o papel de figurantes no projeto lulopetista de poder.
Com informações do Estadão