Invasões do MST afastam governo Lula da maior feira do agro do País

Invasões do MST afastam governo Lula da maior feira do agro do País

Ministro da Agricultura afirma que foi ‘desconvidado’ de participar da abertura da feira, com presença do ex-presidente; ruralistas veem gestão Lula conivente com ações dos sem-terra

SOROCABA – Desde sua edição inaugural, em 1994, a Agrishow, maior evento do agronegócio na América Latina, deverá ser aberta pela primeira vez sem a presença de um representante do governo federal. O ministro da Agricultura e Abastecimento, Carlos Fávaro, afirmou que foi “desconvidado” da abertura da feira após ter sido informado pelos organizadores que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estará presente. O ministro está em situação desconfortável com setores do agro desde a retomada de invasões de terras produtivas pelo Movimento dos Sem Terra (MST).

“Eu fui desconvidado, talvez para evitar algum mal-estar. Foi pedido se não seria melhor eu ir no dia 2. Eu entendi o recado, compreendo. Em outra oportunidade, eu visito o Agrishow com muito carinho. Tudo no seu tempo”, disse Fávaro à CNN Brasil.

A avaliação é que a possibilidade de ser cobrado sobre a posição de tolerância do governo em relação às invasões pode ter pesado na postura reticente do titular da pasta – que também é agropecuarista –, tanto ou mais que a presença de Bolsonaro no evento.

Até a tarde desta quinta-feira, 27, o presidente da Agrishow, Francisco Maturro, tentava demover o ministro da desistência, pessoalmente e por meio de interlocutores. Ele garantiu a Fávaro que apenas autoridades ocupariam o palco de abertura, o que incluía o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas excluiria Bolsonaro.

O episódio ocorre em meio às invasões deflagradas pelo MST desde o início do ano e com mais intensidade no chamado “Abril Vermelho”, quando até uma área de pesquisas da Embrapa Semiárido foi invadida, em Pernambuco. Áreas produtivas da Suzano também foram ocupadas no Espírito Santo e só desocupadas nesta quinta, dez dias após a liminar de despejo dada pela Justiça.

Houve ainda a invasão de outras 11 fazendas durante este mês. Nas primeiras ações, enquanto o governo negociava com o MST – o movimento reivindicava a nomeação de simpatizantes em postos-chave do Incra e mais verbas para assentamentos, exigências que acabaram sendo atendidas –, Fávaro foi a única voz na gestão Lula a condenar contundentemente as invasões, chamando-as de “crimes” e “inaceitáveis”.

A presença de Bolsonaro na abertura da Agrishow gerou mal-estar entre setores do governo federal. No início da semana, Paulo Junqueira, presidente do Sindicato Rural de Ribeirão Preto, anunciou à imprensa local que o ex-presidente aceitou o convite do sindicato para ir à feira. Bolsonaro deve acompanhar o governador na cerimônia. Junqueira é um crítico constante das invasões de terras e, durante a campanha do ano passado, organizou agendas de Bolsonaro na cidade.

A reportagem, ele lembrou que, quando presidente, Bolsonaro e seus ministros “entraram na feira a cavalo”. Segundo ele, o agro deve muito ao ex-presidente porque ele trouxe a “paz no campo”. “Neste ano, em quatro meses, já houve mais invasões do que em todo o último ano do Bolsonaro. Por isso os produtores são gratos. O MST é uma organização criminosa e é uma barbaridade o governo ceder à pressão deles, como vi nos jornais. É claro que o ministro poderia ser cobrado. A feira é aberta, muitos produtores rurais virão”, afirmou.

Reservadamente, ruralistas ouvidos pela reportagem lembraram o incômodo com uma declaração do ministro da Agricultura, logo no início do governo. Em fevereiro, durante a 1ª Festa da Colheita da Soja Livre de Transgênico da Reforma Agrária, no Paraná, o ministro teria afirmado que o movimento é legítimo, sonha com a terra e é vítima de “preconceito” no País. A imprensa do MST registrou a fala de Fávaro: “Ver esse movimento tecnificado, cooperativista em que a agroindústria acontece, gera renda e gera dignidade entre homens e mulheres é simplesmente gratificante”, teria dito em conversa com produtores, na presença da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.

Para representantes de setores ruralistas, o governo Lula não busca uma aproximação de fato com o agro, uma vez que não condena, nem reprime as ações do MST.

Nesta quinta-feira, 27, Fávaro voltou a afirmar que a invasão de terra é grave tanto quanto a invasão do Congresso, referindo-se aos atos de 8 de janeiro. “Nosso posicionamento é o mesmo do presidente Lula. Vamos enfrentar como já enfrentamos o legítimo sonho da terra. Invasão da terra não pode ser concebível e é tão grave quanto invadir o Congresso Nacional. Invasão de terra tem de ser repelida no rigor da lei”, afirmou em evento com 11 ex-ministros da Agricultura, em Brasília.

Nos últimos dias o presidente da Agrishow foi aconselhado a reforçar um convite ao próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva para solenidade de abertura. A sugestão teria sido desconsiderada porque Lula já havia confirmado presença nos eventos do 1.º de Maio, que terá como palco principal o Vale do Anhangabaú, em São Paulo.

Com Estadão

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Lairson Bueno

Lairson Rodrigues Bueno, advogado OAB DF 19407, especialista em Direito Penal, atuando na região Centro Oeste, e, estados de São Paulo e Piauí. É formado em Direito pela UCDB - Universidade Católica Dom Bosco de Campo Grande (MS), cursou Estudos Sociais pela UFMS - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, e, Teologia pela FE - Faculdade Evangélica de Brasília, pós graduado em Direito Penal e Formação Sócio Econômica do Brasil pela UNIVERSO-Universidade Salgado de Oliveira de Niterói (RJ). Mais de 70 cursos de qualificação e atualização profissional. Cursou Espanhol Básico e advogou na fronteira com o Paraguai. Ex-funcionario do Banco do Brasil por 12 anos e de cargos comissionados nas Administrações Públicas por 10 anos. Ex-presidente das Subseções da OAB por 3 mandatos, sendo dois mandatos por Samambaia (DF) e um por Taguatinga (DF). Contatos: (61) 9-8406-8620 advbueno@hotmail.com

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