Morre, aos 95 anos, o papa emérito Bento XVI

Morre, aos 95 anos, o papa emérito Bento XVI

Alemão Joseph Ratzinger foi escolhido papa no dia 19 de abril de 2005, após a morte de João Paulo II, no mesmo ano , o primeiro papa a renunciar em quase 600 anos

O papa emérito Bento XVI morreu aos 95 anos neste sábado (31), anunciou o Vaticano. O alemão Joseph Ratzinger nasceu em 16 de abril de 1927 na cidade de Marktl, mas passou boa parte da infância e adolescência em Traunstein, perto da fronteira com a Áustria.

De família humilde e o mais novo de três irmãos, entrou para o seminário aos 12 anos e era fluente em diversas línguas, entre elas grego e latim. Mais tarde, fez doutorado em teologia na Universidade de Munique.

Ele foi escolhido papa no dia 19 de abril de 2005, após a morte de João Paulo II, no mesmo ano.

Ortodoxo, Ratzinger era conhecido por transitar entre os conservadores com mais facilidade e um dos favoritos para a sucessão papal, mesmo não sendo oficialmente a sua vontade.

O nome adotado por ele foi o de Bento XVI. Na ata da audiência geral, publicada no site oficial do Vaticano, ele explicou as razões para a escolha.

“Quis chamar-me Bento XVI para me relacionar idealmente com o venerado pontífice Bento XV [Cardeal Giacomo della Chiesa], que guiou a Igreja num período atormentado devido à Primeira Guerra Mundial”, disse ele.

“Ele foi um profeta corajoso e autêntico de paz, e comprometeu-se com coragem infatigável primeiro para evitar o drama da guerra e depois para limitar as consequências nefastas”, completou.

O Papa Bento XVI (Joseph Ratzinger) em visita à cidade de Aparecida em maio de 2007 — Foto: José Patrício/Estadão Conteúdo/Arquivo

5 pontos para entender quem foi Bento XVI

  • Primeiro papa a renunciar em quase 600 anos de história da Igreja Católica.
  • Foi papa por apenas 8 anos.
  • Depois de sua decisão, em 2013, recebeu o título de papa emérito.
  • Seu pontificado ficou marcado pela forma como tratou casos de abuso sexual e o chamado escândalo Vatileaks.
  • Ao renunciar, alegou problemas de saúde, mas os reais motivos nunca ficaram claros.

Segundo nota do Vaticano, Bento 16 morreu às 9h34 (5h34 no horário de Brasília). O velório está marcado para 5 de janeiro e será presidido pelo papa Francisco, seu sucessor.

“É com pesar que informo que o Papa Emérito Bento XVI faleceu hoje às 9h34 [5h34 no horário de Brasília] no Mosteiro Mater Ecclesiae no Vaticano”, escreveu o perfil de notícias do Vaticano no Twitter.

Na quarta-feira (28), Francisco disse que Bento 16 estava “muito doente” e pediu que a Igreja rezasse por ele. Mais tarde, o Vaticano afirmou em um comunicado que ele havia sofrido uma “piora” repentina de sua saúde e estava recebendo atenção médica constante.

No último vídeo dele, divulgado pelo Vaticano em agosto por ocasião da tradicional visita dos novos cardeais, Bento 16 apareceu magro e debilitado, com um aparelho auditivo, incapaz de falar.

Joseph Ratzinger nasceu na Alemanha no dia 16 de abril de 1927.

Infância em meio ao nazismo na Alemanha

Em um período de ascensão do regime nazista na Alemanha, Ratzinger optou por focar na igreja e em seus ensinamentos como forma de proteção ao movimento.

Mesmo com a decisão, e com o pai também se opondo ao regime de Adolf Hitler, Ratzinger entrou obrigatoriamente para a força auxiliar do Exército em 1941, mesma época em que integrou o seminário preparatório, aos 14 anos.

Já no final da Segunda Guerra Mundial, foi convocado para ajudar nos serviços antiaéreos.

Entre idas e vindas das convocações para o serviço militar, desertou no ano de 1945 após ser capturado por soldados norte-americanos e ficar preso por meses.

Ratzinger, então, decidiu voltar para o seminário, e a sua ordenação saiu em junho de 1951.

O então papa Bento XVI abençoa os fiéis ao passar pela Praça de São Pedro, no Vaticano, depois de audiência geral semanal, em 24 de outubro de 2012. / ANDREW MEDICHINI/ASSOCIATED PRESS/AE

Carreira como teólogo

Joseph Ratzinger (à esquerda), então professor de teologia, com o cardeal Joseph Frings, em foto de janeiro de 1962

Imagem: Handout/Erzbistum Muenchen Und Freisign/AFP

  • Entrou para o seminário aos 12 anos.
  • Na adolescência, estudou grego e latim, e mais tarde se doutorou em teologia pela Universidade de Munique.
  • Foi professor de Teologia durante 25 anos na Alemanha, antes de ser nomeado arcebispo de Munique.
  • Em seguida virou o guardião do dogma da Igreja Católica durante outros 25 anos em Roma.

Foi escolhido papa em abril de 2005, aos 78 anos, para suceder João Paulo 2º (1920-2005), um dos pontífices mais populares da história.

Renúncia

Se não por seus inúmeros escritos, livros e discursos teológicos, produzidos antes e durante o seu pontificado, Ratzinger certamente entrou para a história como o papa da modernidade que renunciou – apenas outros quatro o fizeram antes dele.

O último foi Gregório 12, em 1415, mas em circunstâncias completamente diferentes, pois buscava acabar com um cisma na Igreja.

Já Bento 16 renunciou aos 85 anos, em um discurso em latim, no dia 11 de fevereiro de 2013, justificando que a idade avançada lhe tirava forças para poder governar.

No mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor, seja do corpo, seja do ânimo, vigor que, nos últimos meses, em mim diminuiu, de modo tal a ter que reconhecer minha incapacidade de administrar bem o ministério a mim confiadoBento 16 em uma reunião com cardeais no Vaticano.

A decisão foi tomada após a viagem ao México e a Cuba, em março de 2012. Em entrevista ao jornalista Peter Seewald, no livro “O Último Testamento”, Ratzinger disse que se comoveu com a fé do povo latino-americano, mas também foram dias em que experimentou os limites de sua resistência física. Na visita, ele chegou a cair e ferir a cabeça.

“Percebi que não seria mais capaz de enfrentar, no futuro, outros voos transoceânicos, pelo problema do fuso horário. Ficou claro que não conseguiria participar da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, em 2013”, explicou.

Contudo, outros papas idosos, em condições até piores, como Pio 12, Paulo 6º e João Paulo 2º, cogitaram renunciar, mas nunca o fizeram. Somando-se a isso o contexto anterior à renúncia, tumultuado do ponto de vista político, surgiram especulações sobre os verdadeiros motivos de Bento 16 para deixar o ministério petrino.

O Papa Emérito Bento XVI, terceiro a partir da esquerda, encontra-se com os vencedores do Prêmio Ratzinger 2022 no mosteiro Mater Ecclesiae em 1º de dezembro de 2022 — Foto: Fondazione Vaticana J.Ratzinger via AP

Vatileaks e casos de abuso

O chamado escândalo Vatileaks, no qual um mordomo roubou documentos do papa e o entregou a supostos algozes, demonstrou que era grande a hostilidade de membros da Cúria Romana a qualquer reforma na Igreja Católica.

Além disso, a corrupção sistêmica no Instituto de Obras Religiosas (IOR, conhecido como banco do Vaticano) e o sempre presente problema dos abusos sexuais praticados por membros da Igreja assombraram os últimos anos do seu papado.

No seu “Último Testamento”, o papa alemão reconheceu que administrar não era o seu ponto forte. Mas procurou minimizar o peso desses problemas na sua decisão.

“As coisas tinham sido todas esclarecidas. Não é possível que alguém renuncie quando as coisas não estão no lugar”, disse. “Ninguém tentou me chantagear. Eu não teria permitido. Graças a Deus, eu estava no estado de ânimo pacífico de quem tinha superado as dificuldades.”

Em fevereiro deste ano, ele pediu perdão às vítimas de abusos sexuais por parte de sacerdotes da Igreja Católica Romana, após um relatório independente apontar negligência dele ao se defrontar com suspeitas envolvendo a arquidiocese que ele comandava.

Enquanto cardeal, ele foi arcebispo de Munique e Freising, na Alemanha, entre 1977 e 1982. Segundo o relatório publicado, o papa emérito se omitiu em quatro casos de abuso na divisão da igreja.

Grupos tradicionalistas e islamismo

De acordo com o padre e historiador italiano Roberto Regoli, autor do livro “Além da Crise da Igreja”, “o papado de Bento 16 é significativo não só pela sua imprevisível conclusão —a renúncia com a criação do papado emérito—, mas também pelas questões que foram abertas por ele e ainda não concluídas”, escreve.

Entre essas questões estão as difíceis relações com outras comunidades cristãs, pois Bento 16 abriu as portas para que cristãos de outras tradições migrassem ao catolicismo e deu mais espaço a grupos tradicionalistas, por exemplo.

E também com outras religiões, como o islamismo. O famoso discurso de Ratisbona marcou a linha do diálogo inter-religioso em seu pontificado.

Papa teólogo, Bento 16 procurou em seus oito anos de pontificado usar a razão para fazer um convite ao mundo que considera essencial: o de recuperar a sua fé.

“O verdadeiro problema neste nosso momento da história é que Deus desaparece do horizonte dos homens”, declarou a Peter Seewald. “Com o apagar da luz proveniente de Deus, os efeitos destrutivos [dessa desorientação] se manifestam cada vez mais.”

Condenou casamento homossexual

Em 2021, o papa emérito publicou um novo livro, batizado de “La vera Europa” (A Verdadeira Europa, em tradução livre), em que fez duras críticas ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Ratzinger escreveu que “o conceito de casamento homossexual está em contradição com todas as culturas da humanidade”.

A postura difere da que seu sucessor adotou —Francisco já demonstrou apoio as leis civis que protegem a união entre pessoas do mesmo sexo. O líder da Igreja Católica, contudo, deixou claro que o matrimônio, um sacramento, é “só entre um homem e uma mulher”.

Apesar das divergências, Francisco e Bento mantinham boa relação.

“A sua oração e sua presença discreta e encorajadora nos acompanham no caminho comum”, disse o papa Francisco sobre o antecessor, em novembro de 2017.

“Sua obra e seu magistério continuam a ser uma herança viva e preciosa para a igreja. Continua a ser um mestre e um interlocutor amigo para todos os que exercitam o dom da razão para responder à vocação humana de buscar a verdade.”

Fonte: Agenda Capital/G1/CNN/UO/DF LiVRE

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Lairson Bueno

Lairson Rodrigues Bueno, advogado OAB DF 19407, especialista em Direito Penal, atuando na região Centro Oeste, e, estados de São Paulo e Piauí. É formado em Direito pela UCDB - Universidade Católica Dom Bosco de Campo Grande (MS), cursou Estudos Sociais pela UFMS - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, e, Teologia pela FE - Faculdade Evangélica de Brasília, pós graduado em Direito Penal e Formação Sócio Econômica do Brasil pela UNIVERSO-Universidade Salgado de Oliveira de Niterói (RJ). Mais de 70 cursos de qualificação e atualização profissional. Cursou Espanhol Básico e advogou na fronteira com o Paraguai. Ex-funcionario do Banco do Brasil por 12 anos e de cargos comissionados nas Administrações Públicas por 10 anos. Ex-presidente das Subseções da OAB por 3 mandatos, sendo dois mandatos por Samambaia (DF) e um por Taguatinga (DF). Contatos: (61) 9-8406-8620 advbueno@hotmail.com

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