Líderes evangélicos pregam para reeleger o presidente Bolsonaro
Principais líderes do segmento evangélico se engajam na campanha pelo segundo mandato do presidente e querem dar demonstração de força no 7 de Setembro. Primeira-dama tornou-se peça fundamental na tática
Às vésperas da largada para a campanha, o eleitorado evangélico — sobretudo a corrente neopentecostal — entrou com força para turbinar a estratégia de Jair Bolsonaro (PL) para tentar diminuir a distância para o petista Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas. Nesta semana, o presidente recebeu reforço de líderes das maiores organizações para convocar os fiéis a participar das manifestações de 7 de Setembro. O chamado foi feito por meio de um vídeo que circula nas redes sociais, sobretudo entre os bolsonaristas.
A meta dos líderes religiosos que estão fechados com o presidente é que 20 milhões de apoiadores tomem as ruas na data. O vídeo, de pouco mais de um minuto, traz os pastores Silas Malafaia, Cláudio Duarte, Teo Hayashi, César Augusto, Estevam Hernandes, Rina, Victor Hugo, Renê Terra Nova e Lucinho convocando seus seguidores. “Todos de verde e amarelo. A nossa bandeira jamais será vermelha”, diz a narração do vídeo, em alusão a Lula e ao PT.
Comunicação
Michelle Bolsonaro também intensificou a comunicação para as evangélicas devido à perda de apoio do presidente entre elas. Nos últimos dias, a primeira-dama liderou cultos — até no Palácio do Planalto —, atacou Lula e classificou as eleições de outubro como uma “guerra do bem contra o mal”. Segundo especialistas, Bolsonaro é o único presidenciável com capacidade de dialogar com os fieis das igrejas neopentecostais.
O presidente conta com apoio de parcela considerável dos evangélicos de um modo geral. Segundo pesquisa do Datafolha, divulgada no final de julho, Bolsonaro tem o voto de 43% dos religiosos contra 33% de Lula. Ele, porém, enfrenta dificuldade de crescer no grupo por conta das mulheres.
O mesmo levantamento mostra que o presidente tem apoio somente de 29% das evangélicas, contra 48% do público masculino. Em comparação com 2018, a adesão dentro do grupo se fragmentou.
Desde a convenção nacional do PL, Michelle vem recrudescendo o discurso e subindo o tom numa direção que muitos enxergam como perigoso. Na última terça-feira, compartilhou um vídeo no qual Lula participa de cerimônia do candomblé. “Isso pode, né! Eu falar de Deus, não”, publicou numa rede social, manifestação que foi considerada preconceituosa.
Voto de peso
O voto evangélico emergiu com força em 2018 e especialistas consideram que deu a vitória de Bolsonaro sobre o petista Fernando Haddad. Porém, a crise econômica, as mortes causadas pela pandemia da covid-19 e o desmonte de políticas públicas fragmentaram o apoio ao presidente no segmento.
O efeito é sentido principalmente entre as mulheres, que são maioria (em torno de 60%) entre os evangélicos. “Grande parte desse público está nas pequenas igrejas, na maioria liderada por mulheres”, disse ao Correio a professora do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora colaboradora do Instituto de Estudos da Religião (Iser) Jacqueline Moraes Teixeira.
Ela salienta que as pautas defendidas pelas evangélicas estão muito ligadas à saúde, educação e segurança pública. “A centralidade da Michelle na campanha não soa como estratégia eleitoreira, mas como algo natural. Ela traz a construção de uma espécie de aliança: ‘vocês não confiam nele, mas podem confiar em mim’”, resume.
Os discursos da primeira-dama sobre “guerra do bem contra o mal” mantém o engajamento entre os evangélicos. “É um ponto muito presente dentro da teologia pentecostal, do cristianismo sendo perseguido. Falando isso, ela mobiliza pessoas que entendem essa dinâmica da perseguição ou que sentem que isso pode acontecer. É um truque que mobiliza as pessoas, tirando a atenção de problemas que vivem”, analisa Juliano Spyer, antropólogo e fundador do Observatório Evangélico.
Com CB