Bitcoin cai 54% em 6 meses e outras criptos também tombam: Será o fim de uma era?
“É possível esperar uma reviravolta, que depende do mercado em geral. Mas é impossível dizer quando”, afirma Bazan.
Com o menor apetite dos investidores por risco e o movimento de aumento dos juros no mundo, o bitcoin (BTC) tem operado em queda desde novembro de 2021, quando alcançou o valor de US$ 65,4 mil. Na última quarta-feira (25), chegou a US$ 29,7 mil — um recuo de 54,4% em pouco mais de seis meses.
Apesar de ser caracterizado por intenso sobe e desce, o momento do bitcoin influencia outras criptomoedas e chama a atenção do mercado, de acordo com analistas consultados pelo UOL. Entre elas está o ethereum (ETH), segundo criptoativo mais negociado. Desde o início de novembro, o ethereum registra queda de 57%, chegando a valer US$ 1.964 no dia 25 de maio.
Mas será que o momento de baixa deve permanecer? É possível uma perda brusca no valor do bitcoin ou investidores devem aguardar uma reviravolta? Quem não tem deve comprar? E quem possui criptomoedas na carteira? Confira abaixo o que dizem os especialistas.
Por que o bitcoin está despencando?
Podemos atribuir esse momento às incertezas macroeconômicas vigentes e a uma consequente fuga dos investidores dos ativos de risco. Basicamente, o cenário é de inflação persistente nos Estados Unidos e expectativa por fortes ajustes de política monetária, por meio de novos aumentos de juros, para conter a alta nos preços. (Ayron Ferreira, head de research da Titanium Asset Management).
Nos 12 meses encerrados em abril, a inflação americana chegou a 8,3%, maior nível em mais de quatro décadas. A resposta do Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos EUA) foi elevar os juros de 0,75% para 1% ao ano. Além disso, a guerra na Ucrânia também pesa sobre a inflação.
Head de research da Titanium Asset Management, Ayron Ferreira declara que esse cenário leva a uma correção no mercado de ações dos EUA (um reajuste para um patamar mais ‘normal’ após um momento de forte alta), e o bitcoin segue na mesma direção.
“Um dos motivos para essa correlação pode ser a institucionalização do bitcoin nos últimos anos, que teve um aumento considerável de adoção por players institucionais”, afirma.
O CTO (Chief Technology Officer) da fintech de cripto Parfin, Alex Buelau, também lembra que o último ‘halving’ (quando a quantidade de bitcoins recebida pelas mineradoras cai pela metade) ocorreu em 2020. Isso reduz a oferta da moeda e aumenta o preço em um curto espaço de tempo.
“A gente passou por isso [halving], e os preços do bitcoin começaram a subir. Esse fator traz junto todos os outros criptoativos, já que a sua correlação com o bitcoin é alta. Agora, temos visto a volta para o preço normal, que seria o preço médio em caso de uma alta nem tão exacerbada”, diz Buelau.
Investidores devem esperar uma recuperação?
Ao observar o histórico do bitcoin, os analistas afirmam que o valor de mercado da moeda deve retomar um período de alta. Mas não está claro quando isso deve acontecer.
Embora acredite que o bitcoin não terá uma trajetória semelhante há quatro anos, quando registrou queda de 70% em novembro de 2018, ao patamar de US$ 3.000, o CTO da Parfin diz que não é possível dizer se esse recuo está perto do fim e quando será o momento da retomada.
“O fato é que se observado nos últimos dez anos, a reviravolta é uma possibilidade clara. A pergunta que fica é como seria o início desse movimento. De repente, o controle da inflação nos Estados Unidos pode levar o preço do bitcoin e das ações de tecnologia para cima”, afirma Buelau.
O analista da casa de análises Empiricus, Vinicius Bazan, diz acreditar que uma reviravolta só deve começar entre o final deste ano e o início de 2023.
“É possível esperar uma reviravolta, que depende do mercado em geral. Mas é impossível dizer quando. A gente pode ter fatores próprios do mercado resultando na geração de valor. Um deles é o ‘The Merge’, do ethereum, que pode levar a volta do apetite pelo uso das aplicações”, afirma Bazan.
O “The Merge” é a atualização da criptomoeda ethereum do mecanismo de prova de trabalho (proof-of-work) para o mecanismo de prova de participação (proof-of-stake), o que deve prover mais segurança a reduzir gastos com energia do ativo.
Tenho bitcoin na carteira: e agora?
Para Vinicius Bazan, da Empiricus, é sempre indicado que o investidor tenha bitcoin na carteira. No entanto, ele orienta a separar uma parcela de criptoativos que não seja significativa, algo em torno de cerca de 5% do portfólio.
“Se a pessoa tem mais do que isso, acho um bom momento para reduzir a fatia e diminuir o risco. Se ela não tem, é um bom momento para comprar e colocar na carteira um ativo importante do mercado que está com preço descontado [barato] sobre as máximas históricas”.
Já Ayron Ferreira, da Titanium, afirma que o investidor que já tem parte do patrimônio alocado em bitcoin precisa verificar quais são os fundamentos do ativo antes de tomar a decisão sobre a sua manutenção ou venda.
Para o investidor que ainda não possui, Ferreira vê o momento atual como adequado para começar a apostar na criptomoeda.
“Estamos a aproximadamente 60% da máxima histórica, que foi em US$ 69 mil. Geralmente, o comportamento do investidor de varejo é se posicionar em momentos de euforia, o que é muito prejudicial, pois acaba-se pagando mais caro. A melhor atitude é pagar mais barato por ativos de valor”, diz o head de research da Titanium Asset Management.
Com Uol/Investimentos