COVARDIA CONTRA RACISMO NA OAB BENEFICIA CHAPA DE THAÍS RIEDEL
Gravada por Wilson Simonal em 1967, a música Tributo a Martin Luther King começou a ecoar forte por toda Brasília no começo da noite desta quinta, 11, logo após a decisão da Comissão Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Distrito Federal, rejeitar denúncia de suposta fraude na chapa da candidata Thaís Riedel, com uso de brancos se passando por negros para atender a obrigatoriedade de cota, como determina a legislação.
A decisão do relator da Comissão Eleitoral, se não foi premeditada, transportou a uma velha frase do diplomata e ex-ministro Rubem Ricúpero: o que não se presta, a gente joga debaixo do tapete. No caso em questão, do que se tratava? Da recomendação da Subcomissão de Heteroidentificação, criada para auxiliar a Comissão Eleitoral nas questões raciais. E a subcomissão foi clara: dos 15 candidatos que se apresentaram como negros ou pardos, 13 são brancos.
A surpresa maior, que beneficia a chapa de Thaís Riedel, veio no início da discussão da denúncia. O relator do processo desconsiderou a análise da subcomissão e repetiu Ricúpero, pelo simples fato de quem assina a denúncia tem o registro na OAB do Rio de Janeiro. Ao menos descobri uma coisa valiosa: jornalista é mais importante do que advogado, porque sua carteira emitida pela Fenaj vale em todo o território nacional, sem ressalvas.
Não precisa ser perito para concluir que os branquinhos maquiados de negros tiveram pelas mãos do relator da Comissão Eleitoral, uma suposta vitória por questão meramente processual. No mérito, a comissão que analisou a questão racial declarou 13 dos 15 impugnados como inaptos à vaga destinada aos negros e pardos.
Ricúpero, incorporado em alguém, faz ver que o racismo estrutural prevaleceu. E fica claro que uma questão de magnitude constitucional não foi analisada de ofício pela Comissão Eleitoral. Por se tratar de questão de ordem pública, a análise da fraude deveria ser de ofício, eis que chegou ao pleno conhecimento da Comissão Eleitoral a fraude na composição da chapa de Thaís Riedel.
É triste, imoral, e repudiante que fatos assim aconteçam na capital da República onde o presidente é acusado de racismo e genocida. Não seria excesso, portanto, supor que o presidente da Comissão Eleitoral, ao olhar-se no espelho, veja refletida a imagem do capitão.
Os negros de todas as chapas (possivelmente como exceção os da Thaís) não gostaram do que aconteceu. Ficou caracterizado que enquanto o mundo se volta contra o racismo estrutural, a Comissão Eleitoral da OAB-DF faz vistas grossas.
E voltamos a 1967, agora com coro cada vez mais forte, para lembrar Wilson Simonal:
Sim, sou um negro de cor/Meu irmão de minha cor/O que te peço é luta sim/Luta mais!/Que a luta está no fim/Cada negro que for/Mais um negro virá/Para lutar/Com sangue ou não/Com uma canção/Também se luta irmão/Ouvir minha voz/Oh Yes!/Lutar por nós…/Luta negra demais/(Luta negra demais!)/É lutar pela paz/(É Lutar pela paz!)/Luta negra demais para sermos iguais/Para sermos iguais/Sim, sou um negro de cor/Meu irmão de minha cor/O que te peço é luta sim/Lutar mais!/Que a luta está no fim…/Cada negro que for/Mais um negro virá/Para lutar/Com sangue ou não/Com uma canção/Também se luta irmão/Ouvir minha voz/Oh Yes!/Lutar por nós…/Luta negra demais/Para sermos iguais.