Endrick comanda maior virada do Brasileiro e leva Palmeiras ao título
Garoto é determinante em conquista do time alviverde, que esteve 14 pontos atrás do Botafogo
O Palmeiras concluiu, na noite de quarta-feira (6), a maior virada da história do Campeonato Brasileiro na era dos pontos corridos, possível graças ao talento do jovem Endrick, 17. Com um empate com o Cruzeiro, por 1 a 1, no Mineirão, sacramentou o que havia deixado muito bem encaminhado no fim de semana e conquistou uma edição que esteve nas mãos do Botafogo. Em uma era na qual o certame é associado a uma corrida de cavalinhos, o time de General Severiano refugou. Esteve por 30 rodadas consecutivas na liderança e chegou a abrir uma vantagem de 13 pontos em relação ao segundo colocado. A margem era ainda maior sobre o Palmeiras, que esteve 14 pontos atrás do primeiro colocado em duas ocasiões, ao fim da 15ª rodada e da 27ª. Nunca houve, desde que o torneio passou a ser disputado no sistema de pontos corridos, em 2003, virada desse tamanho. Nem em 2009, quando o Flamengo esteve 13 pontos atrás do próprio Palmeiras antes de levantar a taça. Na ocasião, a maior frente do clube alviverde sobre o segundo colocado, que não era o Flamengo, foi de cinco pontos. Nunca um líder que abriu sete pontos em relação ao segundo colocado havia ficado sem o título.
O máximo de gordura queimada foi de seis, em 2008, quando o São Paulo foi o campeão.
Em 2018, o Flamengo abriu também seis pontos, mas ainda na 11ª rodada, com o Atlético Mineiro na segunda posição. O Palmeiras foi o campeão. Grandes viradas também não são comuns nas disputas de pontos corridos pelo mundo, embora existam exemplos marcantes. Na temporada 2002/03, o campeão Manchester United estava cinco pontos atrás do Arsenal a nove rodadas do fim. Em 2003/04, o vencedor Valencia estava a sete do Real Madrid a 12 jogos do término. No caso alviverde, a reviravolta foi concluída com um empate, no Mineirão, onde Endrick abriu o placar no primeiro tempo, aos 21 minutos, e Nikão empatou na etapa final, aos 35. Apesar do resultado, acabaram as chances de Atlético e Flamengo, meramente matemáticas. O Atlético era o mais próximo, três pontos atrás, mas com enorme diferença no saldo de gols: 31 a 23.
Em Belo Horizonte, onde se fez presente, e nos arredores do Allianz Parque, onde realizou uma grande festa, a torcida alviverde nem se preocupou com os rivais, que foram ficando pelo caminho desde domingo. Até a penúltima rodada, quando o Palmeiras derrotou o Fluminense por 1 a 0 e praticamente selou o título, cinco clubes ainda estavam na briga. Foi o segundo maior número de postulantes na 37ª rodada desde 2009, quando seis clubes chegaram vivos a esse momento. Desta vez, ainda que a edição fique marcada pelo fracasso botafoguense —que nem sequer terminou no G4 e, em quinto, terá de disputar a fase prévia da Copa Libertadores—, não são poucos os méritos da equipe alviverde em aproveitar o vacilo do adversário para conquistar o seu 12º título brasileiro. O jovem atacante Endrick e o técnico Abel Ferreira têm muito a ver com a virada. O treinador soube preservar no primeiro semestre o garoto, que completou 17 anos em julho. O jovem teve fase irregular e acabou sacado do time. Mas Abel voltou a apostar nele para ocupar a vaga de Dudu, uma das maiores referências do elenco, abatido em agosto por lesão grave. Mesmo fora da reta final, ele agora chegou a seu 12º título em verde e branco e igualou o recorde de Ademir da Guia.
Na ausência do camisa 7, Endrick mostrou personalidade para assumir o protagonismo, especialmente no no confronto que marcou a arrancada para o título, contra o Botafogo, no segundo turno. Na ocasião, o time carioca chegou a abrir 3 a 0 ainda no primeiro tempo, mas o Palmeiras buscou a virada Depois de ter marcado o primeiro gol alviverde, no início da etapa final, o adolescente pediu aos companheiros: “Dá a bola em mim. Toca para mim”. Foi dele, também, o segundo do time, antes que Flaco López e Murilo decretassem a virada já nos acréscimos, em resultado determinante para derrubar o moral do adversário e encurtar a distância. “Sou jogador que aparece na hora difícil”, disse o garoto depois do triunfo, que, àquela altura, deixava o time paulista a apenas três pontos do líder. Na 34ª rodada, depois de se recuperar de uma derrota para o Flamengo por 3 a 0 e aplicar o mesmo placar no Internacional, o Palmeiras assumiu a ponta da tabela e de lá não mais saiu.
Com o triunfo sobre o Cruzeiro, a formação comandada por Abel Ferreira chegou aos 70 pontos, com 20 vitórias, 10 empates e 8 derrotas. Com 64 gols marcados e 33 sofridos, teve o melhor ataque e o melhor saldo de gols. Dez desses gols saíram dos pés de Endrick, o artilheiro do time na competição e quase um amuleto. Nos dez jogos em que ele balançou as redes, o time somou 76,67% dos pontos, com sete vitórias, dois empates e uma derrota. As atuações pelo Palmeiras renderam ao garoto a primeira convocação para a seleção brasileira. No mês passado, ele faz parte do grupo que enfrentou Colômbia e Argentina pelas Eliminatórias. Ainda que o Brasil não tenha ido bem nesses jogos, com duas derrotas, a convocação fez bem para o jogador, que voltou ainda mais confiante. Também aumentou seu prestígio na mídia internacional. Tem sido assim desde sua ascensão, no ano passado, e só aumentou após ele ter sido negociado com o Real Madrid, em dezembro, por € 72 milhões (R$ 381 milhões). Endrick chegará ao Real em julho de 2024, mas só poderá treinar com a equipe no final do mês, depois do dia 21, quando completar 18 anos.
Fonte: Folha de Sp.