Brasileiros tentam ‘limpar’ nome e recorrem as fintechs; saiba os cuidados

Brasileiros tentam ‘limpar’ nome e recorrem as fintechs; saiba os cuidados

Além da venda de objetos pessoais e saque da poupança, famílias têm recorrido cada vez mais aos bancos digitais, que viram procura por crédito aumentar 62,8% ao ano desde 2016

Num ambiente de inadimplência recorde no País, os brasileiros estão recorrendo a diferentes estratégias para tentar limpar o nome. No radar dos devedores, as fintechs de crédito começaram a ganhar popularidade. Elas oferecem empréstimos online, embora nem sempre com uma taxa de juros vantajosa. Também há quem use algum tipo de poupança ou venda bens para quitar despesas do dia a dia, numa tentativa de evitar que o orçamento entre no vermelho.

O estoque de crédito das fintechs ainda é bastante pequeno se comparado ao dos grandes bancos. Mas a alta da taxa básica de juros e o consequente aumento do custo de capital têm deixado o mercado mais restritivo, sobretudo para quem está com o nome sujo.

“A conjuntura atual implica restrição ainda maior para esse público (inadimplente), o que faz com que essas pessoas venham atrás de players que estejam atendendo mais esse perfil de cliente”, afirma Antonio Brito, CEO e cofundador da SuperSim. A empresa tem uma média de 100 mil operações por mês, e o volume solicitado chega a cerca de R$ 1 milhão.

Especialistas alertam que é preciso ser cauteloso ao contrair esse tipo de empréstimo. “Uma fintech talvez seja menos exigente para conceder o crédito, mas os juros podem ser muito altos”, avalia Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper. “Por outro lado, há plataformas que têm taxas competitivas e até mais acessíveis, principalmente em empréstimos com garantia. Muitas refinanciam automóveis ou imóveis.”

Em setembro, 30% das famílias estavam com dívidas em atraso, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio (CNC). Foi o maior patamar apurado desde 2010, início da pesquisa. A situação é ainda pior para as famílias de mais baixa renda. Mais vulneráveis à inflação e à fragilidade do mercado de trabalho, elas têm pouca margem de manobra para administrar as contas.

Todos os meses, o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas, mensura o indicador de estresse financeiro das famílias, composto pelo endividamento da população e pela fatia de entrevistados que se desfaz de poupança ou vende bens apenas para pagar despesas básicas.

No mês passado, o indicador de estresse ficou em 25% – 13,7% utilizaram recursos guardados e 11,3% estavam se endividando. Para as famílias com renda mensal de até R$ 2,1 mil, o indicador foi de 30,6%. Entre as com ganho mensal de até de R$ 9,6 mil, marcou 18,4%.

“As famílias de mais baixa renda se mostram mais endividadas e com um comportamento de cautela muito forte, enquanto que há um comportamento com maior intenção de compra na faixa de renda mais alta”, diz Viviane Seda, coordenadora de sondagens do Ibre.

Fintechs

Apesar do estoque ainda tímido em comparação ao dos bancos tradicionais, os empréstimos oferecidos por plataformas digitais vêm crescendo num ritmo forte. Um levantamento da Serasa Experian mostra que o volume de crédito concedido por fintechs e bancos digitais avança em média 62,8% ao ano – oito vezes a média do mercado, que registra alta anual de 8,1%.

O levantamento foi feito com base no intervalo de 2016 a 2021. No período, o volume oferecido por startups do setor passou de R$ 4,8 bilhões para R$ 55 bilhões. Já a oferta de todo o Sistema Financeiro Nacional (SFN) foi de R$ 3,174 trilhões para R$ 4,685 trilhões.

O estudo indica ainda que 2022 deve seguir a tendência de alta: houve um aumento de 412% nas pesquisas de CPFs e CNPJs para concessões de crédito por todas as empresas financeiras. Do total dessas pesquisas, 10,6% eram de startups.

Uma parte expressiva dessa demanda por crédito tem sido para o pagamento de dívidas. Um mapeamento da FinanZero, plataforma online que faz intermediação de empréstimo com 60 instituições financeiras e compara as taxas de juros, apontou que 33,3% dos pedidos em agosto tinham como objetivo quitar dívidas. Na sequência, citado por 16,3%, ficou negócio próprio. Em média, o valor solicitado foi de R$ 6,6 mil.

A Creditas, que oferece empréstimos com garantia, também registrou esse movimento: em setembro, 29% da procura por crédito com garantia de veículo foi para pagar dívidas. A demanda pela modalidade cresceu 43% nos últimos 12 meses.

“As pessoas querem sair da dívida e estão buscando crédito pessoal. Porém, para uma pessoa endividada, com um comprometimento da renda acima de 30%, é muito difícil conseguir esse crédito”, afirma Renata Eufrosino, gerente da FinanZero. “Mas aí entra um ponto: a fintech tem um apetite de risco maior e olha para esse público.”

Por três anos, o funcionário público Theogenes Ramos, morador de Piaçabuçu, interior de Alagoas, engrossou a lista de inadimplentes no País. Enquanto construía a sua casa, viu a sua dívida no cartão de crédito crescer e chegar a R$ 6 mil. “Eu comecei a construir e a comprar material, mas a minha esposa ficou desempregada”, conta.

Com o nome sujo e sem limite disponível, passou a utilizar cartões de crédito de amigos e parentes para conseguir terminar a obra. “Eu ficava sem pagar o meu cartão, mas tinha o compromisso de pagar o deles.”

Ramos começou a se livrar da dívida há cinco meses, depois de pesquisar na internet como uma pessoa negativada consegue empréstimo. Encontrou uma fintech que aprovou dois empréstimos: um de R$ 500 e outro de R$ 750. Juntou uma reserva e quitou o que devia no cartão. “Não estou mais inadimplente e, agora, consigo pagar o que devo.”

Educação financeira

Além do cenário econômico desfavorável, com inflação e juros altos, outro fato que tem levado à inadimplência é a falta de educação financeira, agravada por um “excesso de confiança”. É o que indica uma pesquisa da Creditas em parceria com a Opinion Box. Segundo o estudo, 70% das pessoas acreditam que conseguem avaliar as melhores opções ao se depararem com diferentes linhas de crédito. Porém, mais da metade (52%) já se endividou pelo mau uso do cartão de crédito ou do cheque especial.

“O brasileiro está habituado a utilizar crédito curto, o cheque especial, e caro, que é o cartão de crédito. Não é porque a pessoa conhece as opções tradicionais disponíveis no mercado que ela sabe qual é mais adequada para ela”, diz Maria Teresa Fornea, vice-presidente da unidade de empréstimo com garantia de imóvel da Creditas. “Qualquer pessoa que tem um carro ou um imóvel, por exemplo, consegue um crédito melhor, pois tem prazos mais longos e taxas menores.”

Com Estadão 

Fonte: Agenda Capital

Please follow and like us:
0
Tweet 20
Pin Share20

Lairson Bueno

Lairson Rodrigues Bueno, advogado OAB DF 19407, especialista em Direito Penal, atuando na região Centro Oeste, e, estados de São Paulo e Piauí. É formado em Direito pela UCDB - Universidade Católica Dom Bosco de Campo Grande (MS), cursou Estudos Sociais pela UFMS - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, e, Teologia pela FE - Faculdade Evangélica de Brasília, pós graduado em Direito Penal e Formação Sócio Econômica do Brasil pela UNIVERSO-Universidade Salgado de Oliveira de Niterói (RJ). Mais de 70 cursos de qualificação e atualização profissional. Cursou Espanhol Básico e advogou na fronteira com o Paraguai. Ex-funcionario do Banco do Brasil por 12 anos e de cargos comissionados nas Administrações Públicas por 10 anos. Ex-presidente das Subseções da OAB por 3 mandatos, sendo dois mandatos por Samambaia (DF) e um por Taguatinga (DF). Contatos: (61) 9-8406-8620 advbueno@hotmail.com

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

RSS
Follow by Email
YouTube
Pinterest
LinkedIn
Share
Instagram
Telegram