Saiba como o mercado financeiro usa modelos matemáticos para tentar prever o resultado das eleições
Bancos e gestoras projetam crescimento de Bolsonaro por conta da queda do desemprego e da desaceleração da inflação
Com dezenas de pesquisas eleitorais em mãos e elaborando modelos estatísticos, bancos e gestoras vêm tentando prever o resultado do pleito de outubro. Por enquanto, o cenário base da Faria Lima e do Leblon, os dois principais corredores financeiros do Brasil, é de que, com o desemprego em queda, um PIB maior do que o esperado no começo do ano e o desembolso das parcelas do Auxílio Brasil, o presidente Jair Bolsonaro(PL) deverá crescer até o início de outubro, com a disputa no primeiro turno podendo terminar acirrada entre ele e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT), que lidera hoje as pesquisas de intenção de votos.
Essa projeção faz parte de cálculos matemáticos produzidos para consumo interno de bancos e gestoras, que, segundo fontes, têm resultados que não divergem muito entre si. De todo o mercado financeiro, dois modelos são reconhecidos pela sua acuracidade até mesmo entre concorrentes, o do Itaú Unibanco e o da XP.
Em nota, o Itaú afirmou fazer simulações “com a influência de variáveis econômicas sobre intenções de voto. Essas simulações, que repetem um padrão bem estabelecido no Brasil e internacionalmente, indicam que melhora do crescimento econômico e redução da inflação beneficiam candidatos do governo, assim como desaceleração econômica e aceleração inflacionária tendem a prejudicá-los”. A XP não quis comentar.
Assim, os modelos do mercado financeiro avaliam o quanto os dados econômicos podem interferir diretamente na curva de popularidade de um presidente. Além das estimativas de PIB e de inflação, eles costumam utilizar também taxa de desemprego e massa salarial.
No modelo do Itaú, segundo fontes, a partir de agosto as pesquisas de intenção de voto devem começar a identificar uma melhora de Bolsonaro. Nesse cenário, o terceiro candidato melhor posicionado, Ciro Gomes (PDT), se desidrataria com o movimento de voto útil.
Já no modelo de uma gestora, a redução do desemprego – de 11,2% entre dezembro e fevereiro para 9,3% entre abril e junho – tem pesado e indicado que a mudança no mercado de trabalho pode elevar a taxa de aprovação do presidente. De acordo com o modelo, a queda no desemprego deve fazer com que Bolsonaro tenha, até o primeiro turno, 40% de aprovação. Hoje, o presidente tem um índice de 28%, segundo o Datafolha.
“Ele (o presidente) está dando todos os estímulos (econômicos) para diminuir a margem (entre ele e Lula)”, diz o economista responsável pelo modelo. O gestor destaca, entre as medidas do presidente, a sanção da lei que limita a cobrança de ICMS sobre combustíveis e energia. A regra teve o efeito de desacelerar a inflação, uma das variáveis importante no modelo dessa gestora.
Os responsáveis pelos estudos reconhecem a interlocutores, no entanto, que há variáveis que podem entrar na conta de forma imprevisível. Um exemplo que chamou atenção em 2018 foi o papel das redes sociais, que ajudou a alavancar a popularidade de Bolsonaro.
Os modelos do mercado financeiro são diferentes dos usados por analistas políticos. Para prever o resultado das eleições, a consultoria de análise de risco político Eurasia, por exemplo, adota pesquisas de intenção de voto e de prioridades dos eleitores, além de um estudo da Ipsos que cruza dados históricos de popularidade dos presidentes e as vezes em que eles foram reeleitos. Esse estudo indica que um candidato à reeleição com 30% de aprovação seis meses antes do dia da votação ganha a disputa em 19% das vezes. Se a aprovação é de 35% e 40%, a vitória costuma ocorrer em 36% e 58% das vezes, respectivamente.
Com base nesses dados, a consultoria afirma que hoje Lula tem 65% de probabilidade de vencer as eleições. Houve uma queda de cinco pontos porcentuais na chance do candidato petista justamente devido à melhora dos indicadores econômicos.
Sondagem ‘própria’ vira rotina
Além dos modelos estatísticos, o Brasil nunca viu tantas pesquisas eleitorais, mais do que uma por semana, contratadas por bancos e corretoras no Brasil. A prática, que começou a ser disseminada nas eleições presidenciais de 2018, ganhou neste ano ainda mais tração.
No entanto, são os chamados “trackings”, sondagens que não costumam ser registradas junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nem divulgadas, que são de maior número e muito disseminadas, mesmo em gestoras menores. No geral, são menos sensíveis do que as pesquisas dos institutos, dado que a coleta é feita por telefone.
Com esses dados em mãos, os gestores de fundos, por exemplo, tomam decisões de alocações de suas carteiras de investimento. Um dos investimentos do portfólio que tem sido alvo dessas sondagens é a Petrobras. “O preço da ação da Petrobras não está embutido na vitória de Bolsonaro, que tem falado mais a sério em privatizar a empresa”, diz um gestor que contrata esses “trackings” periodicamente.
Com Estadão