Sob pressão após novo aumento dos combustíveis, presidente da Petrobras pede exoneração do cargo
A Petrobras informou, nesta segunda-feira (20) que José Mauro Coelho pediu demissão da presidência da companhia. O anúncio foi feito quase um mês após o Executivo começar a ser pressionado pelo governo diante reajuste no preço de combustíveis. Bolsonaro sugeriu, na última sexta, a criação de uma CPI para investigar diretores da companhia e o conselho de administração. Governo quer nova diretoria na empresa.
BRASÍLIA – José Mauro Coelho renunciou ao cargo de presidente da Petrobras nesta segunda-feira (20). A decisão ocorre três dias após um novo reajuste no preço dos combustíveis e em meio à pressão do governo.
Coelho foi demitido há um mês, mas o processo de checagem do candidato indicado a ser seu substituto, Caio Paes de Andrade, ainda não foi iniciado. Segundo a companhia, “a nomeação de um presidente interino será examinada pelo Conselho de Administração da Petrobras a partir de agora”.
Além de deixar a presidência da estatal, Coelho também renunciou ao cargo de membro do Conselho, conforme divulgado pela Petrobras.
“A nomeação de um presidente interino será examinada pelo Conselho de Administração da Petrobras a partir de agora”, disse a companhia em comunicado publicado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A ofensiva do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre a Petrobras ao propor a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) surtiu efeito sobre a cúpula da estatal, avaliam interlocutores do Palácio do Planalto. Nos bastidores do governo, já se espera a troca da diretoria da estatal ainda nesta semana, com a renúncia do presidente José Mauro Coelho. Fontes próximas à gestão da empresa dizem que Coelho pode renunciar ainda nesta segunda-feira, 20.
Na última sexta-feira (17), Bolsonaro reagiu ao anúncio de reajuste dos combustíveis da Petrobras e sugeriu a criação de uma CPI para investigar diretores da companhia e o conselho de administração. A medida tem apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e será avaliada ainda nesta segunda em reunião de líderes.
A expectativa do Executivo é levar à Petrobras uma diretoria mais alinhada com os interesses do governo. O indicado para a presidência é Caio Paes de Andrade, secretário do ministério da Economia. Também comporia o grupo o secretário-executivo da Casa Civil, Jonathas Assunção Salvador Nery de Castro, braço-direito do ministro-chefe Ciro Nogueira, cacique do Centrão.
A saída de Coelho divide os conselheiros da empresa, com parte apoiando a sua resistência, para evitar que o governo troque a diretoria, e parte apoiando sua saída para evitar que a Petrobras perca ainda mais valor de mercado. Depois de ser fortemente atacado na semana passada por Bolsonaro e autoridades aliadas do governo, o presidente demissionário da Petrobras há quase um mês foi bombardeado em uma rede social no último sábado, com ameaças e insultos em relação à sua permanência no cargo. De “renuncia, verme vagabundo” a “renuncia verme e some do mapa”, as reações negativas dividiram espaço com algumas manifestações de parabéns pelo dia do químico, motivo da publicação de Coelho da rede social.
O executivo, formado em engenharia, postou uma homenagem ao dia do químico em um momento que sofre grande pressão para renunciar. Mesmo antes do aumento do diesel e da gasolina, na semana passada, a alta cúpula do governo, representada pelos ministros da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP) e de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, tentou em reuniões com o dirigente da Petrobras convencê-lo, sem sucesso, a renunciar e a não aumentar os combustíveis.
Após o aumento, Lira, por exemplo, culpou o presidente da empresa de praticar o que chamou de “terrorismo corporativo”, e afirmou que a gestão do executivo, indicado pelo governo para o cargo em abril deste ano, era “ilegítima”. O ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), também pediu explicações sobre a política de preços praticada pela empresa. Já Bolsonaro defendeu a abertura de uma CPI para investigar a Petrobras, o que foi apoiado pela oposição.
Se Coelho permanecer no cargo, como o próprio afirmava até a semana passada, e obedecer o trâmite normal da sucessão, o governo terá que esperar a realização de uma assembleia para eleger Paes de Andrade para o Conselho de Administração da companhia, junto com outros membros que saíram com a demissão de Coelho, processo que pode levar até 60 dias. Já se o executivo renunciar, a entrada de Paes de Andrade seria abreviada.
Histórico de demissões
José Mauro Ferreira Coelho foi o terceiro presidente da Petrobras no governo Bolsonaro.
O primeiro a assumir o comando da estatal durante o governo do presidente Jair Bolsonaro foi o economista Roberto Castello Branco, indicado logo após as eleições de 2018.
Castello Branco foi nomeado para cargo em janeiro de 2019 e demitido em fevereiro do ano passado pelo presidente, que alegou estar insatisfeito com os reajustes nos preços de combustíveis durante a gestão do economista.
O nome indicado para substituir Castello Branco foi o general Joaquim Silva e Luna. O militar tomou posse do cargo em abril de 2021 e permaneceu no posto até março deste ano.
O general permaneceu 343 dias no cargo e foi demitido em abril deste ano por ter seguido a lógica de mercado para definição dos preços.
Após a saída de Silva e Luna, o governo chegou a indicar os nomes do economista Adriano Pires e do empresário Rodolfo Landim para assumir o comando da estatal, no entanto, ambos informaram que não poderiam assumir os postos.
Em abril, o governo indicou José Mauro Coelho para assumir o comando da estatal. O executivo assumiu a presidência da Petrobras no dia 14 do mês passado
Com informações do Estadão/G1